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projeto 02: Avatar e a Natureza segundo Francis Bacon

DISCUSSÃO TEÓRICA

Avatar (2009) de James Cameron apresenta uma realidade futurista onde a civilização humana já é capaz de explorar o universo em busca de recursos naturais para suprir suas necessidades econômicas. Em particular, a lua Pandora é apresentada no filme como sendo um local capaz de sustentar vida e possuir grandes reservas de um mineral de alto interesse econômico para uma corporação humana. Tal corporação executa a sua exploração de mineração empregando tanto mercenários e ex-fuzileiros como cientistas. Vale ressaltar nesse ponto que ambos os papéis, de cientista e de soldado, representam perspectivas diferentes sobre a natureza de Pandora.
Este mundo estranho é habitado por diversas formas de vida que possuem suas peculiaridades e em especial uma maneira de se conectar com a própria natureza e com os demais seres vivos através de uma ligação apresentada no filme como pequenos filamentos que se conectam entre as espécies e permitem uma comunicação entre eles. Há também uma civilização de humanoides chamada de Na’vi que compartilha dessa conexão com a natureza de seu mundo e vive segundo suas próprias tradições em respeito e, se considerar o termo, em simbiose com o mundo em que vivem.
No decorrer da trama, nos é apresentado Jake Sully (Sam Worthington), um ex-fuzileiro paraplégico que fora enviado a Pandora apenas para não desperdiçar o avatar de seu irmão gêmeo. Avatares são a forma que os cientistas encontraram para poderem estudar e se relacionar com o mundo de Pandora. Através da tecnologia, misturaram o DNA humano com o DNA dos Na’vi e geraram corpos que podem ser controlados a distância por seus portadores. Essa é a melhor maneira de se explorar e conhecer Pandora, visto que tudo nesta lua repudia a existência humana, assunto que será tratado mais à frente.
Ao ser designado ao grupo de avatares, Jake é ao mesmo tempo parte do intuito militar de sua corporação como também parte do time de cientistas e, ao passo que se encanta com o mundo em que está, é sempre lembrado de sua verdadeira missão ali, que seria se reportar ao Coronel Miles (Stephen Lang) com dados sobre o estilo de vida dos nativos e suas estratégias, bem como seus bens, tendo em vista um plano para que seja possível extrair do solo abaixo da aldeia deles uma quantidade enorme de minério. Em sua ambiguidade e conflito interno, Jake se relaciona e é aceito pela tribo nativa, sendo iniciado em seus costumes e aprendendo como ser um deles. Aproximando o grupo de cientistas da Doutora Grace (Sigourney Weaver) e o mundo que querem estudar e conhecer.
De certo, o próprio firmamento que existe ao conceber o mundo de Pandora é por si só um conceito de natureza para além dos conhecimentos humanos, muito embora essa natureza sirva como paralelo à natureza terrestre atual. Pandora é um planeta que, embora sustente vida, é tóxico a fisiologia humana. Não apenas a atmosfera é diferente a ponto de causar a morte de seres humanos sem o equipamento apropriado como também a biologia local é totalmente estrangeira, por falta de termo melhor, estranha e toda a concepção dessa natureza gera algo que não apenas se aproxima do conceito de natureza-princípio, mas praticamente o é em suma. O problema apresentado da perspectiva humana é como explorar essa natureza, ou melhor, como torna-la objeto apesar de sua forma primordial que, a princípio, supera as capacidades da tecnologia humana e, tendo em vista um debate moral sobre a mesma, o conceito ecológico entra aqui obviamente imbatível, sendo apenas superado pela ignorância e ganância da corporação.
Ao se utilizar de meios violentos para extrair da natureza aquilo que querem, a corporação negligencia a capacidade dessa tal natureza primordial, que fora estudada pelos cientistas. A comparação com a perspectiva de outros filmes é aqui muito simples de ser feita, como em Jurassic Park (1993) onde aqueles que visavam o uso da natureza para fins econômicos acabam sendo punidos pela mesma de formas humilhantes e não muito mais do que meros reflexos da natureza-princípio que se manifestam para a constituição do conceito-imagem.
Em contrapartida, o grupo de cientistas da Doutora Grace estuda e se encanta pelo mundo em que estão. Não apenas compreendem a natureza-princípio que os rodeia, mas também compreendem a sacralidade de tal natureza. Tendo em vista como algo a ser respeitado e protegido, mantido em seu ciclo natural, eles se integram a este mundo, apesar de serem humanos. O contato que apresenta essa perspectiva não seria outro se não uma forma divina que, entre os nativos, permite que eles acessem seus antepassados e se comuniquem com toda a rede biológica que existe em Pandora. Eywa é o nome que os Na’vi dão a essa rede e, sob a perspectiva do filme, ela é a sacralidade da natureza, tanto que até certo ponto da trama, ela não mais é do que uma deusa, e em outro momento é a esperança de que toda a biologia local auxilie no combate contra a corporação. Em paralelo, os cientistas, embora passem a maior parte do filme sem de fato conhecerem essa entidade, acreditam em sua sacralidade como parte integrante de seu objeto de estudo e, portanto, parte da natureza-princípio que querem compreender. Já os militares e a corporação não reconhecem sequer a entidade, sequer a sacralidade da natureza desse mundo em que estão tratando-a meramente como objeto e sequer reconhecendo sua existência. Dessa maneira a própria Eywa representa em si o sagrado na natureza de Pandora.
O combate entre a corporação e os nativos em conjunto com os cientistas representam o combate entre as perspectivas da natureza-objeto e a da natureza-princípio. Apesar da tecnologia, treinamento, técnicas, estratégias, etc, que a corporação possui, ainda não conseguem superar a capacidade da natureza local. Pode-se entender o agir dessa natureza não apenas como um artificio cinematográfico que chega de última hora apenas para mostrar sua verdadeira capacidade, mas sim como um ato reativo, tendo em vista que Jake, até então como um rebelde contra a corporação e favor dos nativos,  se utiliza da conexão com o sagrado da natureza, Eywa, para não apenas pedir ajuda na batalha vindoura, mas também pedir para que ela olhe para as memórias de Grace, que morre perante a entidade, e seus conhecimentos sobre uma natureza-objeto que fora destruída pela civilização humana, e isso só é possível devido ao fato de que Jake e Grace terem compartilhado dessa perspectiva. Sendo assim, a resposta da natureza é quase como um movimento imunológico para proteger-se da abordagem humana perante a natureza.

Avatar é um filme que apresenta uma temática recorrente de homem versus natureza, onde o interesse humano entra conflito com a preservação ou a sobrevivência desse ambiente natural. A representação de tal conflito é feita de maneira peculiar através do conceito de avatar e da civilização nativa que possui uma relação simbiótica com o conjunto natureza ao seu redor.
A frase recorrente no filme “Sempre tem que acordar” remete a ideia de que é necessário assumir uma posição frente a essa natureza, sendo dita em pontos onde o conflito de interesses é direto, como uma argumentação para um debate que ocorre ao longo do filme. Assumir essa posição pode significar tanto o assumir de uma perspectiva frente a natureza-principio ou objeto como o assumir da responsabilidade para mantê-la e protegê-la, em uma perspectiva ecológica de tal natureza. Tema que é recorrente dos dias atuais tendo em vista discussões como aquecimento-global, a crise energética e a produção em massa de itens que consomem muito dos recursos naturais.

 

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